Thursday, May 26, 2011

Reptil-Uno

cabeça humana,
cauda de lagarto
e dedos colados.

somos sempre essa imagem
esse embrião de olhos vendados.

as mãos nem conseguem agarrar
e a coluna só serve para abanar.


Pulgas répteis
que nem saltar sabem.
Uma habilidade lindíssima
que no máximo só usamos no Circo.

Seres circenses de holofotes em cima
num circo onde o público é feito de outros iguais.
Num circo de espetáculos infinitos
onde só nós nos aplaudimos.
Sem mobilidade, visão, tacto.

Um órgão toca lá ao fundo, onde a luz começa
mas nós não o ouvimos,
entretidos em nós próprios e
perdidos nos outros.


Fresta deLuz
27/05/2011

Saturday, May 21, 2011

faca no .

Aquele som de fundo
amaldiçoado por graves
e água salgada.

Aquele toque
e aquela brisa
que contém partículas de vidro.

Aquele jarro que nunca ninguém tocou
a morte que aguarda-nos
e nós que não a aguardamos.

Mas medo de quê?
Amor à eternidade?

Amor a um jarro que nunca tocaremos,
a uma brisa que nos mata
e àquele som que faz-nos jorrar sangue dos ouvidos.

A vida curta encerra em si os maiores medos,
a eterna as maiores ausências.

Não quero uma nem outra,
suspende-me!



Fresta deLuz
22/05/2011

Monday, May 09, 2011

Pedro Pedra

"Raramente janta, o exercício do dia não lhe cria fome suficiente e à noite pouco faz. Costuma ligar a televisão para ter companhia enquanto senta-se no sofá a olhar para aquela terra sem nome, o vazio, o nada. A terra onde as pessoas mergulham no pensar, nas paredes brancas e nos ecos. Acaba sempre por adormecer sentado e de pernas cruzadas, virado para a televisão. A luz azul dá-lhe um requinte de ser do mar, perdido em cruzadas."




Fresta de Luz

XX/XX/XXXX