Wednesday, June 22, 2005

Imunidade Lacrimante


"The fall" de Negateven (www.fotografia-na.net)


Imunidade Lacrimante

Amanhã
O Sol secará
A saliva,
Que brotei propositadamente,
Como todos os líquidos.

Mas…
Nos confins dos líquidos,
Apenas um não secará!

Essa lágrima
Que todos temos,
Essa lágrima
Atolada a meu coração.

Brilhante, luzente!
Como prisma dos sentimentos!
Como oásis em corpo humano!

Porém
Esta é como a rosa,
Traiçoeira
No topo (no seu auge!)
Uma flor de beleza extasiante,
Mas com espinhos ao longo de seu caule.

Lágrima…
Cicatriz memorial,
Trago-te comigo
À medida que me matas
Para quando morrer
Ter inscrito na minha lápide
“Morri enquanto VIVI”!

André Ventura
16/06/05

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Wednesday, June 15, 2005

Eugénio de Andrade


Eugénio de Andrade
Pintura de Mário Botas, 1980



Pequena Elegia de Setembro

Não sei como vieste,
Mas deve haver um caminho
Para regressar da morte.

Estás sentada no jardim,
As mãos no regaço cheias de doçura,
Os olhos pousados nas últimas rosas
Dos grandes e calmos dias de Setembro.

Que música escutas tão atentamente
Que não dás por mim? Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
Que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
Dizer-te apenas que estou aqui,
Mas tenho medo,
Medo que toda a música cesse
E tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
Com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
Ou beijos ou lágrimas
Se acordam os mortos sem os ferir,
Sem os trazer a esta espuma negra
Onde os corpos e corpos se repetem
Parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
Ó cheia de doçura,
Sentada olhando as rosas,
E tão alheia
Que nem dás por mim.

Eugénio de Andrade
Póvoa de Atalaia, 1923-2005


Só hoje tive a coragem de o fazer.

Um bem haja com lágrimas

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Tuesday, June 14, 2005


"Where are you inspiration?" André Ventura Posted by Hello

"Empty" André Ventura Posted by Hello

"Moments " André VenturaPosted by Hello

Monday, June 13, 2005


"Fresta de luz" André Ventura Posted by Hello

"Paisagem (fetos 2)" André Ventura Posted by Hello

Wednesday, June 08, 2005

Coragem


"Solidão Involuntária" de Augusto Tomé (www.1000imagens.com)


Coragem

Nós sabemos o que agora tem valor
E o que se faz na realidade.
A hora da coragem vem até às nossas horas,
E a coragem não nos abandona.
Não é terrível jazer sob as balas mortais,
Nem se fica amargurado por perder o tecto,
E nós preservamos-te, língua russa,
Grande verbo russo.
Levamos-te livre e pura
E deixamos-te aos nossos netos,
E da servidão te salvamos
Para sempre!

Anna Akhmatova

[ Tradução de Manuel de Seabra ]

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