Thursday, August 18, 2011

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Cor de táxi,
sentimento de viagem prematuro.

Um amarelo que dá-me azia,
um verde e preto que me embebeda.

Leva-me nessa viagem,
aquele cheiro que não cheira,
amigo por cinco minutos,
embala-me antes de chegar a casa.

Thursday, June 23, 2011

crise existencial cibernética.

Se eu comparar-me tenho bom gosto,
se for ele tenho um gosto foleiro
se fores tu curtes-me.

Se for contigo eu não existo,
se for com aquele sou um espectro,
com o amigo nº253
não tenho existência para lá do meu perfil.

Mas se gritar na rua existo,
se gritar na rua quem gostar aplaude
quem não gostar manda-me um vaso na tromba.

Na rua os gostos são atitudes,
na rua existo.


Fresta de Luz (o perfil de facebook com inteligência artificial)
data (desconhecida)

Thursday, May 26, 2011

Reptil-Uno

cabeça humana,
cauda de lagarto
e dedos colados.

somos sempre essa imagem
esse embrião de olhos vendados.

as mãos nem conseguem agarrar
e a coluna só serve para abanar.


Pulgas répteis
que nem saltar sabem.
Uma habilidade lindíssima
que no máximo só usamos no Circo.

Seres circenses de holofotes em cima
num circo onde o público é feito de outros iguais.
Num circo de espetáculos infinitos
onde só nós nos aplaudimos.
Sem mobilidade, visão, tacto.

Um órgão toca lá ao fundo, onde a luz começa
mas nós não o ouvimos,
entretidos em nós próprios e
perdidos nos outros.


Fresta deLuz
27/05/2011

Saturday, May 21, 2011

faca no .

Aquele som de fundo
amaldiçoado por graves
e água salgada.

Aquele toque
e aquela brisa
que contém partículas de vidro.

Aquele jarro que nunca ninguém tocou
a morte que aguarda-nos
e nós que não a aguardamos.

Mas medo de quê?
Amor à eternidade?

Amor a um jarro que nunca tocaremos,
a uma brisa que nos mata
e àquele som que faz-nos jorrar sangue dos ouvidos.

A vida curta encerra em si os maiores medos,
a eterna as maiores ausências.

Não quero uma nem outra,
suspende-me!



Fresta deLuz
22/05/2011

Monday, May 09, 2011

Pedro Pedra

"Raramente janta, o exercício do dia não lhe cria fome suficiente e à noite pouco faz. Costuma ligar a televisão para ter companhia enquanto senta-se no sofá a olhar para aquela terra sem nome, o vazio, o nada. A terra onde as pessoas mergulham no pensar, nas paredes brancas e nos ecos. Acaba sempre por adormecer sentado e de pernas cruzadas, virado para a televisão. A luz azul dá-lhe um requinte de ser do mar, perdido em cruzadas."




Fresta de Luz

XX/XX/XXXX

Thursday, April 07, 2011

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Afinal era assim.
Uma responsabilidade,
Um soco no peito.

Não o sabia,
Mas era assim
Que sempre devia ter sido.

A baba cai-nos,
Os músculos abatem,
Ficamos fixos, permanentes.

Tuesday, March 22, 2011

Wednesday, March 16, 2011

Partes de um esquema

Ele vagueava há séculos naquele nevoeiro denso. O mato era dele, movia-se como queria, nada o parava. Há minutos dissera para ela:

“-Não sabes o ódio que me corre nas veias, não sabes como são forjadas estas lágrimas! Não sabes! - passa com a mão selvaticamente na face para limpar as lágrimas– Ai este ferro espetado no meu esófago! Toda a santa noite e todo o santo dia sinto-me a cuspir sangue pelo cérebro. Derretido e feito em merda. Deito-me com cara de burro que levou na tromba e que ainda sorri armado em grande. Isto não sabes tu! – e desata num pranto enquanto desparece pelo meio do mato."

As lágrimas ainda escorriam pela cara agora de aspecto ferrugento. Foi há 30 minutos que tudo mudara. Ele tinha de seguir caminho, Colar sentia-o.

Monday, March 14, 2011

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O que é esta turbulência? Este túnel fatalista e com cores miseravelmente saturadas. Este diafragma de textura intestinal para o qual de vez em quando somos lançados, Esta agonia que nos agarra pela parte inferior do pescoço e pelo coração. Ficamos suspensos, com um tiro do tempo ninguém sobrevive. As coisas passam, o instantâneo torna-se insignificante. Encarnamos a nulidade e a obsessão pelo olhar vago, a cara apática, e a disposição nula.
Esta turbulência que me mata mas que faz-me querer abraça-la, agarrar-me a ela eternamente nesta pausa da memória. Neste clima de chuva constante e ar quente e agradável, sabe-se sempre com o que se conta, com esta turbulência miserável que nos arrasta pelos cabelos enquanto rimos e damos gargalhadas que não se ouvem.

Fresta de Luz 15/03/2011

Tuesday, March 08, 2011

Monday, March 07, 2011

Wednesday, February 16, 2011

Short stories

Colar desmanchou-se a rir. As suas unhas cravaram-se no estômago, as suas costas contorceram-se, a sua voz expandia por toda a tasca, a sua cara deformava-se. Aos poucos uma face de alegria tornou-se num monstro. Não conseguiu-se controlar, tudo estava a olhar para ele, ele chorava e ria, o ranho enfiava-se no meio dos dentes parecendo bocados de queijo agarrados à boca enquanto come-se uma pizza. Não conseguia parar, só o pensamento de parar tornava tudo pior. Tinha de falar, dizer alguma coisa, expressar e justificar-se, isso era o essencial agora. Os olhos dos presentes na tasca pesavam-lhe como chumbo.
- ..... Abusei . ... AHAHAHAHAH! FODASSSSSEEEE!!!! na bebida.... AHAHAHUHUHU!!!! vou ao wc......

Sunday, February 06, 2011

(Lá ao fundo há uma carpete vermelha)

tenho um dragão no coração,
mas este gajo não é como nos filmes
é um tipo aveludado e sem picos.

este dragão é deveras bom
aconchegador, leve, quente.

de vez em quando tosse
ou cansa-se e bufa e,
nessas alturas, os seus cristais
espetam-se em mim.

fico a vomitar durante algum tempo,
sem conseguir tocar nas paredes,
cheirar o fumos dos carros
ou ouvir as buzinas às 07h30.

e assim divido-me no paralelismo do dragão.

é como que um universo de espelhos,
de espelhos com histórias que nunca morrem,
como um barco sobre um mar
de banda desenhada.

É nesse (a)mar que me perco
de olhos fechados
enquanto caio
no abismo da noite.

(Lá ao fundo há uma carpete vermelha)

Fresta de Luz
07/02/2011

Saturday, February 05, 2011

s/t

Aqui numa cadeira que roda,
daquelas de secretária.
Foi aqui que decidi refugiar-me,
consegui chegar lá,
mas o peito precipitou-se
e quase que me afogou.

Os meus olhos não largaram o chão
as minhas sapatilhas pisavam
água, cerveja, vinho e
provavelmente mijo.

Lá dentro estava quentinho e o chão limpo
decidi ir lá espreitar a ver de lugar,
não encontrei depois de dar uma vista de olhos
muito fugaz.

Vim parar aqui,
nesta cadeira.
Voltando àquele local
a cada roda que dou com a cadeira.

Voltando ao quarto a cada vez que paro.


06/02/2011
Fresta de Luz

Thursday, February 03, 2011

Bezerros do Apocalipse

a sombra vem atrás,
de botas altas,
a encher o corredor
com a sua demência.

de olhar furtivo
a sombra é esmagadora no corredor,
as pessoas encolhem-se,
estremecem,
fodem-se e besuntam-se.

Depois acalmam que nem bezerros sebosos.
tornam-se nuns pestinhas ordenados,
lambem a bota da sombra.

Mas a sombra só lá está porque eles a obrigam,
porque eles não apagam a luz.

A sombra não é obrigação,
é opção.

Mas aqueles besuntados preferem
ter a língua na carpete kafkiana,
estes bezerros do Apocalipse.



Fresta deluz.
02/02/2011

Friday, January 07, 2011

Água

Mergulha
que eu mergulho depois de ti.
Sorri
que sorrio depois de ti.

Dizem-nos que a água está porca
comó caralho.
Mas nós lavamo-nos à mesma.

Um ao outro
alimentamo-nos
e limpamos a água.

Dizem-nos que é perigoso,
mas nós só saímos
para de novo mergulhar.

776433

Já risquei todas as paredes,
O quarto já não tem um espaço branco.

Já enchi as gavetas de roupa
e as estantes de livros,
já comprei um computador para encher a secretaria

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Não gostei e não gosto (ponto!)
do que vi na rua,
não gosto mesmo nada da rua
até entrar no quarto
e riscar as paredes.

Passei por pessoas ambulantes
em que me apeteceu matá-las
e arrancar-lhes o fémur a sangue frio.
(antes de as matar)
Mas risquei isso nas paredes.

Houveram sítios
em que criei histórias
e romances e filmes porno dos que valem a pena.
Mas essas coisas todas
risquei-as nas paredes.

As paredes estão cheias
e o quarto também.
Pousei o giz,
e saí à rua.