Wednesday, February 16, 2011

Short stories

Colar desmanchou-se a rir. As suas unhas cravaram-se no estômago, as suas costas contorceram-se, a sua voz expandia por toda a tasca, a sua cara deformava-se. Aos poucos uma face de alegria tornou-se num monstro. Não conseguiu-se controlar, tudo estava a olhar para ele, ele chorava e ria, o ranho enfiava-se no meio dos dentes parecendo bocados de queijo agarrados à boca enquanto come-se uma pizza. Não conseguia parar, só o pensamento de parar tornava tudo pior. Tinha de falar, dizer alguma coisa, expressar e justificar-se, isso era o essencial agora. Os olhos dos presentes na tasca pesavam-lhe como chumbo.
- ..... Abusei . ... AHAHAHAHAH! FODASSSSSEEEE!!!! na bebida.... AHAHAHUHUHU!!!! vou ao wc......

Sunday, February 06, 2011

(Lá ao fundo há uma carpete vermelha)

tenho um dragão no coração,
mas este gajo não é como nos filmes
é um tipo aveludado e sem picos.

este dragão é deveras bom
aconchegador, leve, quente.

de vez em quando tosse
ou cansa-se e bufa e,
nessas alturas, os seus cristais
espetam-se em mim.

fico a vomitar durante algum tempo,
sem conseguir tocar nas paredes,
cheirar o fumos dos carros
ou ouvir as buzinas às 07h30.

e assim divido-me no paralelismo do dragão.

é como que um universo de espelhos,
de espelhos com histórias que nunca morrem,
como um barco sobre um mar
de banda desenhada.

É nesse (a)mar que me perco
de olhos fechados
enquanto caio
no abismo da noite.

(Lá ao fundo há uma carpete vermelha)

Fresta de Luz
07/02/2011

Saturday, February 05, 2011

s/t

Aqui numa cadeira que roda,
daquelas de secretária.
Foi aqui que decidi refugiar-me,
consegui chegar lá,
mas o peito precipitou-se
e quase que me afogou.

Os meus olhos não largaram o chão
as minhas sapatilhas pisavam
água, cerveja, vinho e
provavelmente mijo.

Lá dentro estava quentinho e o chão limpo
decidi ir lá espreitar a ver de lugar,
não encontrei depois de dar uma vista de olhos
muito fugaz.

Vim parar aqui,
nesta cadeira.
Voltando àquele local
a cada roda que dou com a cadeira.

Voltando ao quarto a cada vez que paro.


06/02/2011
Fresta de Luz

Thursday, February 03, 2011

Bezerros do Apocalipse

a sombra vem atrás,
de botas altas,
a encher o corredor
com a sua demência.

de olhar furtivo
a sombra é esmagadora no corredor,
as pessoas encolhem-se,
estremecem,
fodem-se e besuntam-se.

Depois acalmam que nem bezerros sebosos.
tornam-se nuns pestinhas ordenados,
lambem a bota da sombra.

Mas a sombra só lá está porque eles a obrigam,
porque eles não apagam a luz.

A sombra não é obrigação,
é opção.

Mas aqueles besuntados preferem
ter a língua na carpete kafkiana,
estes bezerros do Apocalipse.



Fresta deluz.
02/02/2011