Tuesday, October 04, 2005


"Visões Nocturnas" de Filipa Scarpa (www.fotografia-na.net)


Sonhando

Choro da maresia(parte I)

Via-te a correr naqueles campos desnivelados com um tom de verde gracioso

onde o Sol fazia com que o orvalho parecesse pequenas pérolas a treparem as folhas

dos lírios.

Eras bela, engraçada e eu não me cansava de te ver com aquele cativante

vestido branco manchado(uma oferenda da terra solta). Até que, enquanto corrias caíste

para cima das minhas pernas e pela primeira vez focaste os meus olhos (eram tão belos

os teus...castanhos).

Parecia um combate intenso em que as retinas se mutilavam para brilhar mais que

as adversárias, mas eu não resisti e de repente esse brilho vidrado transformou-se

numa pequena gota do mar.

Afastaste a tua cara, mas pousaste as tuas frágeis e delicadas mãos na minha

face como movimento de piedade e sussurraste:

-Teus olhos choram. Choram o Mar...

-Outrora choraram rios correndo freneticamente para o Mar.- Respondi tentando

atenuar o meu choro.

De olhos fechado (parte II)


E fez-se silêncio. Foi durante esse momento ensurdecedor de silêncio que atravessei o ventre do mundo, finalmente estava no plano da magia, eu sonhava como nunca sonhei.
Foi nesse momento que comecei a sentir o vento cantando as árvore, as nuvens a tocarem-me ao de leve fazendo precipitar os poros da minha epiderme, a brisa atrevida secando os meus lábios, o ar indeciso entrando e saíndo das minhas vias respiratórias, nesse momento eu senti...
Decidi aproveitar o momento sabendo que este poderia ser breve como o relâmpago inspiratório para a construção do poema e, simplesmente, deitei-me. Desfrutava daquele pano de fundo azul, aquele céu, com uma erva seca no canto da boca (aquela imagem tradicional do acto de reflectir sobre o vago).
E de repente, fartaste-te daquele silêncio debruçaste-te sobre mim com as mãos ao lado dos meus ombros e os teus cabelos deslizaram sobre o oxigénio até tocarem-me na face. Estrangulas-te aquele silêncio arrebatado até à morte e disses-te:
-Olha-me!
-Estou a olhar, como poderia perder tal prazer. Ver esse teu vidro aquoso com ramos castanhos escuros entrelaçados possuindo um orifício negro misterioso, não consigo deixar de olhar para essa tua irís. Como hei-de conseguir?- Respondi e questionei, sem saber o que realmente falava.
-Simples, fechando os olhos - Disse ela no seu tom melódico passando seus dedos semi-abertos nos meus cabelos embrenhados.
-Se é tão simples fecha-mos. -tentei-a a conseguir resolver o enigma.
E assim me fechas-te os olhos, fizeste-me deixar de ver os espelhos da tua alma, fizeste-me algo...
Finalmente sorri para o mar, descobri que este acolhia amistosamente os rios, finalmente os rios se salgaram, finalmente salgas-te os meus lábios.
O beijo prometido......

Nada de Novo(parte III)

Meus lábios ficaram salgados, e tu continuavas a olhar-me fixamente à medida que afastavas o teu corpo envolvido num efeito contra-luz com os raios do pôr-do-sol. OS teus movimentos eram frios, gélidos, quando eu tentei-te agarrar os teus dedos…deslizaram.
Uma lágrima deslizou no canto do meu olho e em poucos instantes tinha a cara salgada, mas não dos teus beijos! Mas sim de lágrimas minhas!
Aos poucos desapareceste naqueles raios de luz quase mortos como o meu coração. O amor de sangue que por ti sentia depressa se tornou numa carnificina auto mutiladora sentimental.
Passei a noite ao relento, sem lágrimas, sem água, sem alegria, apenas com um bocado sal extremamente seco colado nos lábios.
Gesto triste…o meu levantar. Olhei fixamente uma constelação, cujo nome desconheço, mas também não interessa! Não era nada de especial! Mas a lua estava enorme e cheia! Como há 7 dias atrás, nada mudou…

Andei sempre em frente naquela escuridão até que avistei fumo no horizonte descobri ser de um pequeno casebre, com uma horta de reduzidos dimensões guardada por um manso e receptivo rafeiro sempre de cauda a abanar, pobre inocente criatura.[E se eu te quisesse matar!?]Dei umas festas no cão, e pela janela de madeira com tinta rosa estalada observei uma bela idosa a fazer crochet numa cadeira baloiçando ligeiramente. Olhei-a durante 5 minutos e fiz-me de novo à estrada à procura de algo novo.

André Ventura


Posted by Picasa

3 comments:

Anonymous said...

1ª a comentar!:D
bem,tava a ver q ñ xegava ao fim, mas xeguei e reparei,o qt significado tem o q escreveste, gostei sim...
a imagem gostei do promenor das nuvens!;)

bem ,eu ñ sei comentar poemas, mt menos fazê-los, eu é amsi d pensamentos...!:)

bjinhux p ti**********fica bem

Rita said...

Se pudesse escrever, ou expor em palavras o quanto que este poema me toca, e me aprofunda... não consiguo explicar,é para mim um poema tão especial... Adorei...
Bjinho*

Anonymous said...

que mentiroso!!(andré)